Vaticano divulga detalhes do terceiro segredo de Fátima
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26 de junho, 2000 9:32 AM hora de Nova York (1332 GMT)

O Papa João Paulo II conversa com a irmã
Lúcia durante sua visita a Portugal em maio.

VATICANO -- O Vaticano distribuiu nesta segunda- feira cópias do texto original do "Terceiro Segredo de Fátima" e um documento explicando sua interpretação sobre o que a Virgem Maria teria dito aos três pequenos pastores portugueses em aparições no ano de 1917.

Segundo a Igreja, o texto previu o atentado do papa João Paulo II e a perseguição dos cristãos pelos comunistas.

O mistério foi revelado no dia 13 de maio passado, quando o papa João Paulo II visitou Portugal e beatificou dois dos pastores, Francisco e Jacinta

O texto atual do segredo foi escrito em 1944 pela única das crianças que ainda vive: a Irmã Lúcia dos Santos, atualmente com 93 anos.

Por muito tempo, especulava-se que o segredo seria uma visão apocalíptica do fim do mundo. Mas, nas 43 páginas do documento denominado "A Visão de Fátima", o Vaticano confirma sua legitimidade, referindo-se a eventos que já aconteceram.

"Nenhum grande mistério foi divulgado; nem o futuro foi revelado", escreveu o cardeal Joseph Ratzinger, em um comentário na interpretação do Vaticano.

"Uma leitura cuidadosa do texto, provavelmente causará desapontamento ou surpresa depois de toda a especulação que provocou".

O comentário de Ratzinger também sugeriu que o turco que atirou no papa, Mehmet Ali Agca, foi apenas um instrumento no plano de Deus.

O papa, logo após ter sido baleado, disse acreditar que a mão da Virgem Maria desviou a bala, permitindo que ele sobrevivesse.

"João Paulo II leu pela primeira vez o terceiro segredo de Fátima após o atentado", disse o monsenhor Tarcisio Bertone, assistente de Ratzinger, na entrevista coletiva que sucedeu a apresentação dos detalhes, nesta segunda-feira.

Citando uma das diversas visões dos pequenos pastores, a terrível imagem de um anjo com uma espada brilhante representaria a ameaça do juízo final sobre o mundo.

"Atualmente, a perspectiva de que o mundo poderia ser reduzido a cinzas por um mar de fogo não passa de fantasia: os homens, com suas invenções, têm falsificado o significado da espada flamejante", escreveu o cardeal em uma aparente referência às armas nucleares.

Segundo Ratzinger, "a importância da liberdade humana é ressaltada: o futuro não é um cenário imutável e a visão de uma criança não é uma previsão infalível do futuro, onde nada pode ser mudado".

Os dois primeiros segredos foram o final da Primeira e o início da Segunda Guerra Mundial e o ascensão e queda do comunismo na União Soviética.

Perguntado por jornalistas se os segredos de Fátima pertenciam ao passado e não ao futuro, Ratzinger respondeu: "Acho que sim; aqui, estamos lidando com uma história muito específica".

Ratzinger também afirmou que algumas interpretações populares sobre a Terceira Guerra Mundial foram "equivocadas".

Em 1981, o atentado contra João Paulo II aconteceu no dia 13 de maio, a data coincide com uma das aparições da Virgem aos pastores em 1917.

Fotocópia do segredo

Um trecho do segredo manuscrito pela Irmã Lúcia em 1944

O documento inclui uma fotocópia do que foi escrito à mão, em português, pela Irmã Lúcia, um segredo que permaneceu trancado no Vaticano, assim como a interpretação da visão. .

Antes de decidir revelar o mistério no mês passado, uma comissão do Vaticano visitou a Irmã Lúcia, no convento onde ela vive, para saber sua opinião sobre a interpretação do papa e pedir sua autorização para revelá-lo.

"A Irmã Lúcia repetiu sua convicção de que a visão de Fátima se referiu à luta dos ateus comunistas para acabar com o cristianismo e descreveu o terrível sofrimento das vítimas da fé no século XX", diz o documento.

"Quando perguntamos se a figura principal da visão era o papa, a Irmã Lúcia respondeu, sem titubear, que sim".

Em plena Praça de São Pedro, Agca atirou em João Paulo II e o deixou à beira da morte no dia 13 de maio de 1981. Nesse tempo, a Polônia, terra natal do papa, iniciava um processo que terminaria com o colapso do comunismo na Europa Oriental.

Segundo o documento: "a Irmã Lúcia concorda plenamente com o papa, afirmando que foi a mão da Virgem que guiou as balas e fez João Paulo II sobreviver ao atentado", que aconteceu no dia de um dos aniversários da visão.

Com informação da Associated Press e Reuters