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 Seçõe
Luz celeste que ninguém explica

Um quebra-cabeça cósmico desafia astrônomos mais competentes

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Leon Jaroff

É um ponto de luz que não pode ser visto a olho nu. Por meio das lentes de um telescópio, ele se assemelha aos demais corpos celestes vizinhos. Mas esse objeto tem algo de extraordinário.

Identificado há mais de três anos, inicialmente ele parecia ser uma estrela como outra qualquer. Pura ilusão. Seria uma galáxia ou, talvez, um quasar? Também não.

Incapazes de descobrir sua natureza e até mesmo sua distância da Terra, os astrônomos passaram a chamá-lo de "objeto misterioso".

Hoje, a definição desse corpo celeste é alvo de debates acalorados da comunidade científica.

O astrônomo S. George Djorgovski, junto com sua equipe do Instituto de Tecnologia da Califórnia, foi o primeiro a localizá-lo, por meio de fotos coloridas feitas digitalmente do céu, no hemisfério norte. Em uma dessas imagens, os cientistas observaram uma estrela de um colorido singular.

Intrigada, a equipe de Caltech resolveu usar um telescópio mais potente. Eles acreditavam que poderiam resolver o mistério com a análise do espectro luminoso do objeto.

"Com base na análise do espectro de uma estrela", declara Djorgovski, "pode-se determinar sua temperatura, seus elementos densos e sua velocidade em relação à Terra."

Queixo caído

Normalmente, poucas horas após se obter o espectro de uma estrela, os astrônomos podem fazer os cálculos quantitativos correspondentes.

Nesse caso, porém, a equipe de Caltech ficou perplexa. O gráfico que apareceu na tela do computador, resultante da análise do espectro luminoso do objeto, parecia um eletrocardiograma. "Ficamos de queixo caído", disse Djorgovski. "Soltamos um palavrão impublicável."

O que mais espantou os cientistas foi o registro dos pontos máximos e mínimos no gráfico. Um astrônomo experiente pode ler a análise do espectro de uma estrela como um técnico analisa uma impressão digital, identificando imediatamente elementos como magnésio ou carbono.

Mas, nesse gráfico, via-se algo anormal. Segundo Djorgovski, "é como se alguém tivesse amarrotado o espectro. Não era uma questão de ver coisas conhecidas fora de seus lugares. Simplesmente não sabíamos o que eram aqueles elementos".

O espectro tem dois grandes pontos máximos que podem ou não indicar a presença de um elemento não identificado.

Apresenta, também, muitos pontos mínimos que talvez representem segmentos do espectro onde a luz foi absorvida por outros elementos —possivelmente presentes na camada externa da atmosfera desse objeto ou nas nuvens gasosas que o separam da Terra.

Três anos

Desnorteada, a equipe de cientistas saiu em busca de respostas. Talvez o objeto fosse uma supernova —estrela que explodiu e que gera "estranhos" espectros. Mas, após meses de observação contínua do objeto, a hipótese foi eliminada, pois as supernovas desaparecem progressivamente logo depois da explosão.

Alguns astrônomos chamaram a atenção para a semelhança do espectro com uma categoria especial de quasar —objetos incrivelmente brilhantes e longínquos, cuja energia provém dos buracos negros.

Somente um ou dois deles —conhecidos como quasares de ampla absorção de ferro— apresentam um espectro que se assemelham ao objeto de Caltech. Será o excesso de íons de ferro no misterioso objeto a causa da distorção de seu espectro?

"Acredito que estamos diante de uma subcategoria de um quasar muito especial. Pode ser um exemplar único", opina Djorgovski.

Ou então sua equipe pode estar observando um quasar sob uma perspectiva incomum, através de uma nuvem gasosa, que estaria causando essa curiosa absorção. "Eu não apostaria em nenhuma das duas hipóteses."

A equipe de Caltech relutou em publicar um relatório que dissesse apenas: "vejam só o que achamos", sem apresentar nenhuma explicação plausível. Por isso, após três anos de avaliações do espectro, e sem encontrar precedentes na literatura especializada, a equipe decidiu tornar o assunto público junto à comunidade científica.

Na reunião da Sociedade Americana de Astronomia, em Chicago, no início do ano, a equipe de Caltech apresentou o espectro aos colegas, e pediu sugestões. Ninguém jamais havia visto algo parecido e poucos ousaram emitir uma opinião.

Com tentativas anteriores frustradas, a esperança de Djorgovski depende dos resultados da investigação das emissões infravermelhas invisíveis do objeto, que apresentam comprimentos de onda ligeiramente superiores à luz vermelha, em uma das extremidades do espectro visível.

Nas próximas semanas, cientistas do Observatório de Keck, no Havaí, utilizarão um telescópio equipado com um espectrógrafo infravermelho. As imagens captadas poderão ser reveladoras.

"Esperamos que, ao ver comprimentos de onda maiores no espectro, possamos identificar um padrão conhecido", informa Djorgovski.

A informação poderá simplesmente confirmar que os astrônomos de Caltech descobriram um estranho quasar ou, quem sabe, poderá ser a descoberta de um objeto celeste totalmente inusitado

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